quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Cem Anos de Solidão



'Nos dias subsequentes ocupou-se em destruir todas as marcas de sua passagem pelo mundo. Reduziu a oficina de ourivesaria até deixar apenas os objetos impessoais, deu as suas roupas as ordenanças e enterrou as suas armas no quintal com o mesmo sentido de penitência com que o seu pai havia enterrado a lança que dera morte a Prudêncio Aguilar. Conservou somente uma pistola, e com uma bala apenas. Úrsula não interveio. A única vez que se meteu foi quando ele estava se preparando para destruir o retrato de Remédios que se conservava na sala, iluminado por uma lâmpada eterna. “Esse retrato deixou de pertencer a você a muito tempo”, disse a ele, “É uma relíquia da família.” Na véspera do armistício quando já não havia em casa um só objeto que permitisse recordá-lo, levou à padaria da casa o baú com os versos, no momento em que Santa Sofia de la Piedad se preparava para acender o forno. – Acenda com isto – disse a ela, entregando-lhe o primeiro rolo de papéis amarelados – Arde melhor, porque são coisas muito antigas. Santa Sofia de la Piedad, a silenciosa, a condescende, a que nunca contraria nem os próprios filhos, teve a impressão de que aquele era um ato proibido. – São papéis importantes – disse. Nada disso – disse o coronel.  São coisas que uma pessoa escreve para si mesma. – Então – ela disse – queime o senhor mesmo, coronel.'

CEM ANOS DE SOLIDÃO- GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ

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